Nem pensava entrar na ECA. Meu pai tinha sido garçom na Praça da Sé aos 14 anos e por ter que trabalhar desde cedo não pode estudar, mas queria. E via com entusiasmo os estudantes da São Francisco fazerem suas festas pela cidade: o “Pindura”, a “Peruada”. Ele me falava disso, e sempre senti que se eu entrasse na Faculdade de Direito seria orgulho para ele. E entrei. Mas no último ano antes do vestibular, em que eu fazia o Clássico, um ex-aluno, o Gatti, que fazia a ECA foi fazer uma palestra na minha escola sobre essa tal de Faculdade das Comunicações. Achei que tinha mais minha cara. E também entrei. Convivi com as duas durante cinco anos – a São Francisco à noite e a ECA de manhã e tarde. Pensei em fazer Cinema, mas fiz TV. Eu queria fazer a revolução e levar mais felicidade ao povo (não sou candidato a nada, mas esses discursos de estudante dos anos 70 soam sempre políticos) e achei que a TV era o veículo mais adequado para isso do que o Cinema.
Na ECA encontrei alunos geniais com uma cabeça criativa de pensamentos originais que eu nunca tinha imaginado e outros que já trabalhavam ou já tinham passado por outras faculdades e também queriam entender essa nova faculdade. Os professores vinham de várias áreas e se adequavam aos objetivos finais dessa escola que no final botaria na rua cineastas, teatrólogos, diretores e produtores de tv, músicos, bibliotecários, artistas plásticos, publicitários e jornalistas. Foi bom conviver com esse pessoal.
Nós, alunos, de certa forma mandávamos no curso de Rádio e TV e quando sentíamos falta de algum conhecimento nessa área íamos falar com o diretor da ECA. Foi assim que conseguimos ter aulas de teatro na EAD com Maria Alice Vergueiro e Clovis Garcia, música e trilha sonora com Willy Correia e desenvolver “ateliers”, trabalhos em conjunto com outras áreas.
Estudei lá de 1970 a 1974, época em que o país era dominado por uma ditadura, que assustava e impedia as pessoas de se expressarem com liberdade, e nós justamente numa Escola de Comunicações. Havia também a droga, não a que desse barato, mas a que abrisse cabeças para se pensar um mundo diferente. Lia-se Castanheda, Huxley, Macrobiótica, I Ching, Gurdjieff. Mas também Marcuse, McLuhan, Reich e os filmes de Bergman, Fellini e Buñuel.
Continuo encontrando vários amigos dessa época até hoje. Uns mudaram de ramo, outros tiveram sucesso ou, o mais importante, ainda são felizes em suas profissões. Lá fiz uma parte importante da minha cabeça e do que sou até hoje.
Aluno | Turma | Curso |
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Valdemar Jorge (Dema) | 1970 | Rádio e TV |