Thomaz Farkas: contrato não renovado
Thomaz Jorge Farkas nasceu em Budapeste, Hungria, em 1924, e imigrou para São Paulo aos 6 anos de idade com seus pais. Aos 8 anos, ganhou sua primeira máquina fotográfica. Formou-se engenheiro pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1947 e realizou doutorado 30 anos depois na Escola de Comunicação e Artes da USP, onde também atuou como professor a partir de 1969, ministrando cursos de Fotografia, Fotojornalismo e Jornalismo Cinematográfico.
Em 1968, foi preso pelo regime militar sob a acusação de colaborar com a guerrilha e ficou encarcerado uma semana no DOI-Codi. No Dops, havia um grande dossiê sobre Farkas. Em 1964, quando o Brasil começava a viver sob a ditatura militar, Farkas enviava realizadores para a periferia da cidade do Rio de Janeiro e para a região Nordeste, em busca de imagens que divulgassem o “Brasil Verdade”. A maior parte desses filmes, sobretudo os realizados entre 1964 e 1974, ficou conhecida como a “Caravana Farkas”, uma série de documentários cinematográficos que ajudou a redescobrir o Brasil através do cinema. A ideia era exibir esses filmes em escolas, em um trabalho educativo.
Farkas havia assumido a direção da Fotoptica em 1960, após o falecimento do pai, e naquela grande empresa de equipamentos audiovisuais tinha acesso às mais modernas filmadoras e câmeras fotográficas da época. Porém, o dossiê o retratava como um “comunista ferrenho”, que agia de “modo suspeito” ao viajar pelo país com equipamentos fotográficos sofisticados. O dossiê cita ainda o envolvimento de seu filho com um movimento de guerrilha, a VAR-PALMARES. Um ano após esse episódio envolvendo o filho, em 13 de setembro de 1972, o contrato de Farkas foi indeferido pelo então reitor da USP. Ele retornaria à ECA somente em 1979, por contrato.
Thomaz Farkas é reconhecido por sua extensa produção fotográfica e cinematográfica, tendo realizado exposições nos mais importantes centros culturais e museus do Brasil e do exterior, e sendo considerado um dos principais expoentes da fotografia moderna no Brasil. Ele foi produtor e coprodutor de aproximadamente 38 filmes documentários de curta e média-metragem, tendo dirigido três deles.
“Por suas lentes passaram belezas e realidades do Sertão e do Recôncavo baiano, do samba carioca e tantos outros temas onde o Brasil e sua gente são vistos por inteiro. Farkas foi um caçador de imagens, daquelas que o olhar comum não alcança… límpidas, iluminadas e, às vezes, cruas, que fazem o espectador rever sua posição tanto na poltrona do cinema quanto na vida. Incansável produtor que viabilizou ideias e projetos de uma geração inteira de cineastas, Farkas foi um artista múltiplo a ser contemplado sob vários ângulos por ter sido um dos mais dinâmicos animadores da cena visual contemporânea brasileira.”
Thomaz Farkas morreu em 26 de março de 2011, aos 86 anos de idade.
Fontes:
Jornal da USP: Perseguição política a professores marcou anos iniciais da ECA/USP
Museu Universitário ArteJornalismo (Texto: Osmar Mendes Júnior)
Ficha de Farkas na Comissão da Verdade
Foto:
[…] a cair foi o professor Freitas Nobre, bravo líder do MDB na Câmara Federal; seguiu-se o professor Thomaz Farkas; depois, José Marques de Melo; finalmente, Jair Borin, que foi preso nas dependências da ECA, […]
[…] Yan Michalski, Noemia Varela, Walter Zanini, Wesley Duke Lee, Aracy Amaral, José Miguel Wisnik, Thomaz Farkas, João Luis Lafetá, Marcelo Nitsche, dentre tantos outros […]