
“Não Me Entrego, Não!”, texto e direção de Flávio Marinho. Com Othon Bastos e Juliana Medella. De quinta a domingo, até 21/4, no Sesc 14 Bis.
Conheci Othon Bastos pessoalmente no início dos anos 80 (1983 ou 1984, por aí), num bate-papo com os alunos da EAD no bloco C da ECA (na velha sala “piscina”). Impossível não se impressionar com aquilo que ele dizia a estudantes de teatro sobre a arte do ator. Àquela altura, Othon mal completara 50 anos e, todavia, já era um monumento do teatro e do cinema brasileiros.
Foi, portanto, um prazer reouvir no Sesc 14 Bis, algumas coisas que ele contou lá atrás e outras que eu não sabia. Mais que isso: foi tocante. Prestes a completar 92 anos, Othon não tem mais o vigor de outrora, mas seus olhos brilham como os de um menino quando fala sobre seu ofício e sua carreira.
A encenação conta com a ótima presença de outra personagem, a Memória do ator (Juliana Medella). Cabe-lhe narrar fatos e aspectos que Othon deixa de lado, “corrigir” o ator, discordar dele, provocá-lo. Pode-se dizer que, a rigor, a peça não é um monólogo, mas o trabalho de Juliana é tão colado no de Othon que parece haver uma única personagem no palco – e de fato há.
No final do espetáculo, Othon Bastos está exausto de tanto andar e falar, mas resta-lhe energia para gritar uma recusa, a que dá nome à peça: afinal, por que um homem que descumpriu a promessa de jamais se entregar à arte deveria cumpri-la agora?
Carlos Antonio Rahal

Carlos Antonio Rahal, ator e diretor, é graduado em Publicidade e Propaganda pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (turma 1983), mestre (2000) e doutor (2007) em Artes Cênicas também pela ECA-USP.