Como fui parar na ECA
Acho que antes de aprender a ler eu já me apaixonei pelos livros e pela leitura, pois meus avós paternos, com quem eu passava uma parte do dia, liam muito. Como livro era um objeto caro e raro e não havia biblioteca pública na pequena cidade ferroviária do interior paulista, meu avô comprava diariamente o jornal mais barato na única banca de jornal que existia e minha avó trocava livros e fotonovelas com as vizinhas.
Lembro que na estante da minha casa havia apenas a coleção Grandes Personagens da Nossa História, uma enciclopédia bem simples e alguns volumes encadernados das Seleções Reader’s Digest, os quais foram lidos e relidos inúmeras vezes. Felicidade, além de comprar gibis, era visitar os primos mais velhos, e mais abastados, que tinham acesso a livros de verdade. Aí podiam se esquecer de mim, qualquer lugar era um bom lugar para ler. Lembro até hoje o dia que ganhei do meu tio, de presente de aniversário, o meu primeiro livro, O Meu Pé de Laranja Lima – esse eu quase recitava de cor.
Aí vocês vão me perguntar, “foi por gostar de livros que decidiu fazer Biblioteconomia na ECA?” E a resposta é não. Na verdade, eu só fui saber que existia um curso chamado Biblioteconomia nos verbetes sobre as profissões da Enciclopédia do Estudante, da Abril, mas confesso que as informações ali colocadas não tornavam a profissão muito atraente.
Na época do meu vestibular era a Arquitetura que tinha ganhado a minha atenção, só que eu fazia o Anglo em Osasco e descobri que precisaria fazer aulas de LA (Linguagem Arquitetônica) no Anglo da Consolação aos sábados à tarde, pois havia uma prova específica para a FAU. Tanto os custos quanto a logística para chegar a tempo nas aulas me fizeram desistir da FAU, pois sem fazer o LA era praticamente impossível conseguir ser aprovada. Como filha de professora e metalúrgico eu não podia me dar ao luxo de não passar na Fuvest, a grana disponível para pagar a faculdade não me dava muita opção, então, tinha que entrar na USP.
Assim, lá fui eu olhar todas as carreiras de Humanas no manual do vestibular e acabei optando por Comunicação Social (pensava no Jornalismo ou em Relações Públicas) como primeira opção e Biblioteconomia como segunda. Quiseram os deuses do vestibular que eu entrasse em Biblioteconomia – ora era um curso na USP, campus Butantã, no matutino, e eu só precisaria enfrentar o “subúrbio” (o trem entre Itapevi, onde eu morava, e São Paulo), então fui fazer a matrícula.
E assim cheguei à ECA em 1982 e encontrei o meu caminho e os meus amigos para a vida inteira. A vida profissional começou com o estágio já no segundo ano do curso, no Centro de Documentação da Prefeitura de São Paulo, onde fiquei dois anos. A seguir surgiu uma vaga na Biblioteca do Consulado Americano e meus colegas surtaram, “como assim aluna da ECA trabalhando lá”? As brincadeiras eram constantes, mas eu levava na esportiva, afinal estágio na Biblio sempre pagou bem, mas cotado em dólar, na época, acho que só o meu.
Depois de formada fui trabalhar no Centro de Documentação de uma grande agência de Publicidade quando surgiu a oportunidade voltar para a USP, desta vez como bibliotecária no Instituto de Psicologia. Eu não pensei duas vezes – do IPUSP, para a FFLCH e depois para a FAU foram 19 anos como bibliotecária na USP, deu tempo de casar, ter filhos e fazer o mestrado e o doutorado até prestar o concurso para docente no CBD onde daqui a pouco vou completar 20 anos.
Valeu a pena? Sim, cada minuto.
Aluno | Turma | Curso |
---|---|---|
Vânia Lima | 1982 | Biblioteconomia |
1993 | Mestrado em Ciência da Informação e Documentação | |
2002 | Doutorado em Ciência da Informação e Documentação |