Com abertura no dia 19 de outubro, a mostra reúne cerca de 500 itens, entre fotografias, filmes, equipamentos de som e imagem e documentos. A retrospectiva apresenta as várias fases da obra de Farkas e trabalhos de outros fotógrafos e cineastas que atuaram em colaboração com o artista.
Para homenagear o centenário de nascimento do fotógrafo e documentarista Thomaz Farkas (1924-2011), o Instituto Moreira Salles (IMS Paulista) organizou a exposição Thomaz Farkas, todomundo, que será inaugurada dia 19 de outubro e poderá ser visitada até 9 de março de 2025, com entrada gratuita.
A seleção apresenta as diversas facetas da vida e obra de Farkas, cujo acervo está sob a guarda do IMS. A retrospectiva aborda seu início na fotografia, incluindo a participação no Foto Cineclube Bandeirante e sua primeira exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1949, passando pela direção no cinema documental e viagens pelo Brasil realizadas nos projetos Brasil verdade e A condição brasileira, nas décadas de 1960 e 1970 (posteriormente projetos que vieram a ser denominados Caravana Farkas), até sua atuação como empresário e incentivador do campo cultural, com a criação da Galeria Fotoptica, em 1979, primeiro espaço dedicado à fotografia no Brasil.
A mostra ressalta como a busca pela coletividade e pelo fazer junto perpassam a produção e a trajetória do artista. Esse aspecto é enfatizado logo na entrada da retrospectiva, com a projeção de dois filmes: Todomundo (1978-1980), curta-metragem dirigido por Farkas, composto por imagens de diferentes torcidas de futebol brasileiras, e Subterrâneos do futebol (1965), de Maurice Capovilla, com produção de Farkas.
Na sequência, a exposição traz fotografias feitas durante a juventude do artista, que nasceu em 1924 na Hungria e em 1930 mudou-se para São Paulo, onde seu pai havia aberto anos antes a Fotoptica. Em 1943, ingressou na Escola Politécnica da USP, onde se formou engenheiro mecânico e elétrico. Na mesma época, começou a trabalhar na loja da família e se tornou membro do Foto Cineclube Bandeirante, o mais avançado centro de debates sobre fotografia da cidade.
A exposição reúne imagens desse período inicial, com registros do centro de São Paulo, feitos na década de 1940, imagens inéditas em cores da cidade, além de sua série clássica do estádio do Pacaembu nesse período. São fotos em preto e branco e em cores, com o predomínio de pessoas e multidões, mas também marcadas pela busca de novos enquadramentos e experimentações formais. Também estão presentes fotografias inspiradas no movimento surrealista, além de uma série de registros de ensaios de balé, nos quais investiga o desenho dos corpos em contraluz e o movimento.
Também na década de 1940, começou a frequentar o circuito artístico do Rio de Janeiro, aproximando-se do cotidiano e da história da cidade, marcados intensamente pelas heranças da diáspora africana e da escravização. Documentou em imagens exibidas na retrospectiva o universo das escolas de samba, entre outras manifestações culturais presentes nas ruas da então capital.
Essas experimentações entre o figurativo e o abstrato, o moderno e o documental, estão presentes na exposição Thomaz Farkas – Estudos fotográficos, apresentada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1949, tida como a primeira exposição de fotografia realizada em um museu de arte no Brasil. Em seção de destaque, a retrospectiva no IMS reúne obras originais e tiragens posteriores das imagens presentes na mostra de 1949, exibidas num espaço que recria a expografia da exposição no MAM-SP.
Ao longo da década de 1950, Farkas gradualmente optou por um compromisso cada vez maior com a cena cultural e política do país, atuando como profissional e empresário. No fim da década, acompanhando o trabalho de colegas arquitetos, documentou a construção de Brasília, em imagens que mostram tanto detalhes dos projetos arquitetônicos e paisagísticos quanto as precárias condições de moradia dos trabalhadores imigrantes de várias regiões do Brasil. No dia da inauguração da capital, produziu uma série de registros do presidente Juscelino Kubitschek, em uma sequência consagrada, de quase cinema, exibida com destaque na exposição.
O interesse de Farkas pela cultura como forma de atuação social se concretizou nos anos 1960 e 1970, quando se voltou ao cinema documental, tema da sua tese de doutorado, no Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP. Em 1964 e 1965, junto com os cineastas Geraldo Sarno, Paulo Gil Soares, Maurice Capovilla e Manuel Horacio Giménez, produziu quatro documentários em preto e branco que compõem a série Brasil verdade. Em 1969, quando o país vivia sob o regime de ditadura e após a edição do AI-5, produziu um segundo projeto, A condição brasileira, reunindo, além de Sarno e Paulo Gil, Sérgio Muniz e Eduardo Escorel. Juntos, percorreram o interior do Nordeste brasileiro, para registrar, agora em filmes documentários prioritariamente em cor, manifestações culturais e a realidade social da região. Pensado como um projeto de difusão amplo, os documentários foram realizados com o intuito de serem, também, exibidos na televisão e em escolas e universidades. O projeto reuniu, além dos diretores, uma equipe de fotógrafos de cinema e técnicos, que construíram essa série pioneira de cinema documental no Brasil utilizando o som direto em sincronia com registro visual em formato 16 mm.
Na exposição, serão projetados vários desses documentários. Entre os destaques, os quatro filmes da série Brasil verdade, todos produzidos por Farkas: os curtas Memória do cangaço (1964), de Paulo Gil Soares; Subterrâneos do futebol (1965), de Maurice Capovilla; Nossa escola de samba (1965), de Manuel Horacio Giménez; e Viramundo (1965), de Geraldo Sarno. A mostra também traz diversos títulos da série A condição brasileira, composta por 19 filmes, realizados entre 1967 e 1972, no interior do Nordeste do país.
A atuação de Farkas no campo fotográfico nunca cessou. Ao longo da década de 1970, fotografou, em associação com os documentários da série A condição brasileira, a região Nordeste, em um extenso trabalho autoral e documental realizado em filmes fotográficos coloridos. Em 1979, fundou, em São Paulo, a Galeria Fotoptica. Idealizada em parceria com Rosely Nakagawa e com atuação de Isabel Amado, a partir de 1987, a galeria realizou um total de 145 exposições e lançamentos de livros de fotógrafos, entre 1979 e 1996, especialmente de uma nova geração que iniciou sua trajetória ao longo da década de 1970. A retrospectiva no IMS exibe obras de diversos artistas que passaram pelas paredes da galeria e formaram um importante acervo, como Luiz Braga, George Love e Claudia Jaguaribe, entre outros que, a partir da experiência de difusão no espaço, construíram suas trajetórias profissionais. Algumas das fotografias de Farkas são apresentadas em diálogo com alguns autores presentes na coleção.
A mostra também aborda outras frentes de atuação de Farkas no campo institucional, com destaque para o apoio à primeira edição do Festival Videobrasil, em 1983, pioneiro na difusão do vídeo enquanto linguagem artística e que vem sendo realizado ao longo dos últimos 40 anos.
A curadoria da exposição é do cineasta e crítico Juliano Gomes, da curadora Rosely Nakagawa, parceira de Thomaz Farkas na fundação da Galeria Fotoptica, e de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS. No dia da abertura (19/10), às 11h, os curadores participam de um bate-papo com o público. Também no dia de abertura da mostra, às 10h30 e às 12h30, haverá uma intervenção musical com integrantes do Clube de Choro de São Paulo. O repertório a ser apresentado dialoga com os filmes Pixinguinha e a velha guarda do samba (1954-2006), de Thomaz Farkas e Ricardo Dias, e Nossa escola de samba (1965), de Manuel Horacio Giménez.
“A fotografia tem sido o sangue do meu corpo, minha cabeça e meu dedo para apertar e fazer uma foto. Este sangue flui também em meus filhos, meus netos e no futuro, meus bisnetos. A fotografia e o cinema têm sido os mais importantes na minha vida, evidentemente ao lado da minha família.” – Thomaz Farkas
Serviço
Thomaz Farkas, todomundo
- De 19 de outubro de 2024 a 9 de março de 2025
- IMS Paulista | 8º e 7º andares | Avenida Paulista, 2424
- Horário: terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h
- Entrada gratuita
Intervenção musical com o Clube de Choro de São Paulo
- Com Allan Abbadia (trombone), Deni Domenico (cavaco), Grazi Pizani (trompete), Lucas Brogiolo (percussão) e Yves Finzetto (pandeiro).
- 19 de outubro, das 10h30 às 11h e das 12h30 às 13h
- Praça do IMS Paulista (5º andar)
- Entrada gratuita
Debate de abertura com Juliano Gomes, Rosely Nakagawa e Sergio Burgi
- 19 de outubro, às 11h
- Cinema do IMS Paulista
- Entrada gratuita, com distribuição de senhas 1 hora antes e limite de 1 senha por pessoa