Olívia Pena

Olivia Pena, em 2012, no Juca em Guaxupé
Olivia Pena, em 2012, no Juca em Guaxupé

Meu nome é Olívia Pena, mas, em meus tempos ecanos, alguns me conheceram como “Rainha do Rolê Errado” – acreditem, o título segue me representando bem. Essa alcunha foi conquistada – e reconquistada durante anos – por conta da organização de carnavais intensos, com cobras em mesas de sinuca, carros atolados, caminhadas pela rodovia em busca de wi-fi, cães e gansos soltos… E também por outros inúmeros desbravamentos em JUCAs, BIFEs, Festecas, Outubros etc etc etc. A grande sacada, entretanto, é que meus rolês errados sempre davam certo, no fim. Os caminhos eram meio tortos (quase que literalmente), a adrenalina era alta, mas todos os envolvidos terminavam felizes e desejosos de uma próxima aventura.

Transpondo o apelido para a vida, acredito que boa parte do porquê de eu escolher os caminhos turbulentos vem da minha mania de perguntar: “por que não?” ou talvez só mesmo perguntar “por quê?”. E essa mania ganhou contornos extremos ao ingressar na ECA, pois sempre digo que foi lá que eu aprendi que a máxima “o céu é o limite” pode ser mais do que um clichê. Estar envolta por pessoas criativas me fez perceber que não há caminhos pré-traçados ou ideias cravadas em pedra. É possível escolher outras rotas, fazer diferente…

Foi com uma dessas reflexões de “por que não?” que acabei entrando para o Redigir depois de formada. Pois é… Eu tinha entregado meu TCC havia pouco mais de um ano, quando tive minha crise dos 30 aos 23. Todos pensam que uma crise vem de uma insatisfação, mas eu vivia o oposto: finalmente havia me encontrado na publicidade: como boa matriarca do rolê errado, eu deixei uma multinacional, como cliente, e me apaixonei por trabalhar no caos das agências (rindo de nervoso); tinha uma chefe que reconhecia minhas entregas e estava lutando pela minha promoção; trabalhava numa mega agência, com um caminho para crescimento. O que mais eu queria? Casar não era. E… vou ser sincera: eu não sabia quais outras opções tinham para se viver, além dessa. Foi aí que entrei em crise. Eu estava tão satisfeita, que não tinha mais objetivo… Então, o próximo passo também veio de um ensinamento ecano (uspiano, eu diria): é necessário dar algum retorno para a sociedade

Dentre todas as possibilidades de atuação social, a educação era a que sempre aparecia nas minhas reflexões. E o Redigir pareceu uma ótima maneira de testar a teoria. E foi. No primeiro dia na salinha do CJE, eu aprendi o que preciso, por vezes, me lembrar até hoje: como professora, você tem múltiplos clientes, e é impossível agradar a todos. Com cinco meses de projeto, eu já tinha certeza de que essa nova área despertava algo diferente em mim e precisei, ironicamente, sair da educação do Redigir para entrar na educação, porque ingressei na faculdade de Letras, dessa vez, uma particular, com foco em formação docente.

Durante meu processo de decisão sobre mudar ou não de carreira, eu consultei diversos ecanos – não só da minha patotinha linda de amigos que levo até hoje. É claro que, para me manter no rolê errado, eu não busco ajuda de ninguém muito são. E, por isso, dentre as diversas trocas sobre o assunto, nunca vou esquecer da conversa que tive com o Luli Radfaher. O Luli, em meio às minhas dúvidas sobre mudar tudo, me perguntou: “Quantos anos você tem mesmo?”. Eu respondi: “23”. E, como bom Gato de Cheshire, misterioso em seus conselhos, ele concluiu: “Tá vendo? Só 5%”. “5%? Que 5%?”, perguntei, meio Alice. Então, o Luli desfez minhas inseguranças com uma só fala: “Suponho que você trabalhe desde os 20, e sua geração deve trabalhar até os 80. Então, você só viveu 5% da sua carreira…”.

Hoje, com 20% da carreira vivido, eu sigo nos rolês fora da curva. Há pouco mais de um ano, estou com minha própria ONG de Educação, dentro da favela de Paraisópolis. Como em casa de ferreiro, espeto é de pau, comecei tropeçando na comunicação – para dar aquela emoção a mais. Até contratar uma ex-aluna minha, atual vestibulanda de Publicidade e Propaganda, que toca toda a parte de Instagram e Tiktok. Nosso logo foi feito pelo Jonas Queiroga, meu amigo e bixo ppnot10. A voluntária que vai nos ajudar com o LinkedIn é a Duda, irmã da Renata França, minha amiga e bixete ppnot11. E diversos amigos ppmats09, ppmats10, ppnots10, rpéios… estão investindo financeiramente para que a ONG tenha alguma chance de sobrevivência. E é assim que a ECA segue fazendo parte da minha história, com os amigos, com os aprendizados e com as mudanças de mentalidade, que me fizeram ir para a educação e me distanciar da própria ECA. A ECA segue o mantra: “se você a ama, deixe-a ir”. Ela me deixou ir, mas eu vou levando-a comigo, por cada curva desse meu grande rolê errado de vida… que dá certo no fim (se é que tem fim!).

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
(…)

 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
— Sei que não vou por aí.

 José Régio

Olívia, em 2013, na formatura na ECA
Olívia, em 2013, na formatura na ECA
Aluna Turma Curso
Olívia Pena 2009 Publicidade e Propaganda
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