Desde os 5 anos de idade, estudei no Liceu Pasteur francês. Eu adorava Ciências e também gostava de escrever e de me comunicar. No colegial, escolhi fazer Biológicas. Meu pai era descendente de libanês e sempre tentava me controlar com “rédeas curtas”. No vestibular, prestei Medicina e acabei entrando na PUC, que fica em Sorocaba. Meu pai foi terminantemente contra: disse que era uma profissão muito sacrificada e que não pagaria. Disse que se eu entrasse em alguma universidade na França ele me deixaria ir.
Eu queria me livrar das garras dele a qualquer custo. Fui até o consulado francês, vi as opções e me inscrevi no concurso para entrar numa universidade na França: Biologia, na Pierre et Marie Curie, em Paris. Os exames eram em francês. Eu tinha meu “baccalauréat” francês, que é o certificado de fim de curso, necessário pra entrar nas universidades francesas. Passei! O curso era gratuito, mas os pais precisavam garantir que mandariam 300 dólares por mês até o final do curso para pagar as despesas de comida e hospedagem do estudante. Fiquei radiante! Para minha surpresa e desespero, meu pai disse que não pagaria. Disse que Biologia não dava futuro, que eu seria a vida toda professora para crianças. E eu sonhando em trabalhar com genética…
Daí bateu o desespero. O que eu poderia fazer? Ele queria que eu fizesse Administração ou Química, para trabalhar na empresa dele, mas tudo o que eu não queria era trabalhar com ele! Um dia minha mãe veio conversar e me disse: “Para você conseguir fazer o que quer, você vai ter que ter o seu próprio dinheiro. Faça um curso de datilografia e procure um emprego.” Ela tinha razão. Isso foi em 1981, na época, não tinha computador, internet, nada disso.
Fui então buscar um curso de datilografia lá no centrão. Estava eu lá, me esforçando, quando vi do meu lado um japonês teclando numa velocidade alucinante. Perguntei para ele por que ele estava tentando teclar tão rápido, e ele disse que ia prestar concurso nos Correios, que pagavam muito bem. Disse também que eles estavam procurando pessoas que falassem outros idiomas, e era meio período. Era exatamente isso que eu precisava. Fui procurar, me candidatei e entrei nos Correios, na área de “Fonegramia”, telegramas fonados. Quem ligasse 135 pelo telefone, caia numa central com vários atendentes, e se houvesse alguém querendo passar um telegrama em outro idioma, o chefe passava a chamada para um atendente que falasse a língua. O trabalho era das 14h às 20h, de segunda a sábado. Perfeito para os meus planos.
Procurei então um curso universitário que fosse gratuito e meio período. Como eu já gostava de escrever e de me comunicar, prestei Publicidade na ECA e acabei entrando, no início de 1982. Estudei na ECA durante os dois primeiros anos no período da manhã e depois passei para a noite para poder trabalhar durante o dia. Foi puxado, como é para todos aqueles que trabalham e estudam, mas guardo comigo memórias incríveis daquele tempo. Inclusive tenho até hoje uma turma de amigos da ECA muito próximos, nos vemos sempre. A ECA fez e faz parte da minha vida.
Depois de tudo isso, em 1992 acabei conhecendo as cavernas e me tornei “espeleóloga”. Trabalho há mais de 30 anos mapeando cavernas por todo o Brasil e contribuo com biólogos e geólogos que precisam dos mapas como base de seus estudos. Também criei um projeto chamado “Luzes na Escuridão”, no qual convidamos os melhores fotógrafos de caverna do mundo para fotografarem as mais belas cavernas brasileiras para gerarmos a consciência sobre a necessidade da sua conservação. Já publicamos três livros de fotografias em quatro línguas, e a repercussão desse trabalho nacional e internacionalmente está sendo muito apreciada. No final das contas, sinto que estou conseguindo cumprir meus objetivos de vida: contribuir com a ciência e usar a comunicação em prol de um objetivo maior, que é a preservação da natureza.
Valeu ECA!
Aluno | Turma | Curso |
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Leda Zogbi | 1982 | Publicidade e Propaganda |