Zé Celso por Thiago Pereira, encenador

Thiago Arrais Pereira é mestre em Artes Cênicas pela ECA
Thiago Arrais Pereira é mestre em Artes Cênicas pela ECA

Zé foi um dos maiores homens de teatro da História

Na vida, não temos um único pai. Nem mãe. O pai é quem nos faz seguir adiante. A mãe, quem nos acolhe da longa jornada. Zé tem o mesmo nome do meu pai familiar. No cristianismo, todo pai é José. Graças ao Zé não abandonei o teatro. Agora, órfão, seguir no teatro depende de mim somente. Já não sou mais só filho. Tive de aprender a ser pai também. Soube da morte de Zé com meu pequeno filho ao lado. A vida é cíclica, queiramos ou não. Brasa e cinza.

É curioso eu chamar o Zé de pai, porque ele faz parte de uma geração que quis matar a família, matar o pai. Nunca quis ter filhos. Mas o pai não morre. O pai é uma ausência necessária, mesmo quando o matamos. Lembro do Deus-Pai ausente de Caim e Abel. Lembro da nossa orfandade, miserável e libertadora.

Zé era o mestre que queria me devorar, de todas as formas, como eu o devorei, com o medo habitual dos filhos que aprendem. Tenho orgulho de ter sido seu aprendiz. De ter aprendido tudo, ou quase tudo, no tempo em que moramos e trabalhamos juntos. Tenho orgulho de ter sido aprendiz, simplesmente. De entender que sozinho se é bem pouco, justamente porque, no final das contas, somos sozinhos.

Zé ardeu e morreu. É como uma fogueira, essencial, que se apaga. Ele foi um dos maiores homens de teatro da História, com uma inteligência, muito mais que intelectual, afetiva, exuberante. Ele é essencial para a cultura brasileira, e, se não fôssemos o país periférico que somos, seria-o também para a cultura mundial. Prantear sua ausência é também reconhecer as cinzas do mundo. Nada se pode fazer quando o fogo se vai. É escuridão. Só não é escuridão maior porque a luz desses gênios brilha dentro de nós.

O dia em que conheci o Zé Celso, em 2005, no Teatro Oficina, em uma apresentação de “Os Sertões”, creio que o fragmento “O Homem 2”. Desse encontro, pintou o convite para eu trabalhar com ele
O dia em que conheci o Zé Celso, em 2005, no Teatro Oficina, em uma apresentação de “Os Sertões”, creio que o fragmento “O Homem 2”. Desse encontro, pintou o convite para eu trabalhar com ele. Na foto, da esquerda para a direita: Thiago Arrais, Zé Celso, Fernando Leão e Jânio Florêncio
Esta é de 2007, feita durante a temporada de “Os Sertões” em Quixeramobim-CE, cidade natal de Antônio Conselheiro, interpretado pelo Zé Celso com esse cajado e camisolão de brim
Esta é de 2007, feita durante a temporada de “Os Sertões” em Quixeramobim-CE, cidade natal de Antônio Conselheiro, interpretado pelo Zé Celso com esse cajado e camisolão de brim

Thiago Arrais Pereira, encenador e professor teatral, é bacharel em Direção Teatral pela UFRJ, mestre em Artes Cênicas pela ECA e doutor em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra, Portugal. Trabalhou como assistente de dramaturgia e direção do Zé Celso. Sua tese na ECA foi sobre o Teatro Oficina, com ênfase em “Os Sertões”, peça da qual também foi produtor.

Compartilhe
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

#main-content .dfd-content-wrap {margin: 0px;} #main-content .dfd-content-wrap > article {padding: 0px;}@media only screen and (min-width: 1101px) {#layout.dfd-portfolio-loop > .row.full-width > .blog-section.no-sidebars,#layout.dfd-gallery-loop > .row.full-width > .blog-section.no-sidebars {padding: 0 0px;}#layout.dfd-portfolio-loop > .row.full-width > .blog-section.no-sidebars > #main-content > .dfd-content-wrap:first-child,#layout.dfd-gallery-loop > .row.full-width > .blog-section.no-sidebars > #main-content > .dfd-content-wrap:first-child {border-top: 0px solid transparent; border-bottom: 0px solid transparent;}#layout.dfd-portfolio-loop > .row.full-width #right-sidebar,#layout.dfd-gallery-loop > .row.full-width #right-sidebar {padding-top: 0px;padding-bottom: 0px;}#layout.dfd-portfolio-loop > .row.full-width > .blog-section.no-sidebars .sort-panel,#layout.dfd-gallery-loop > .row.full-width > .blog-section.no-sidebars .sort-panel {margin-left: -0px;margin-right: -0px;}}#layout .dfd-content-wrap.layout-side-image,#layout > .row.full-width .dfd-content-wrap.layout-side-image {margin-left: 0;margin-right: 0;}