Jorge Claudio Ribeiro

Jorge Claudio Ribeiro

NOVO CONTINENTE

Ingressei na ECA/USP em 1972. E por quê? Difícil avaliar, mas a herança familiar e ensaios precoces relacionados à comunicação provavelmente me empurraram nessa direção.

Com uma pitada de exagero, meu ingresso no campus foi comparável à descoberta de um novo continente ou de um planeta. Passei a frequentar a melhor universidade da América Latina. Éramos conduzidos por professores e professoras competentes em sua maioria e abertos para alternativas ao sufoco em que o Brasil vivia. Usufruí da companhia de miríades de estudantes inteligentes e empenhados a derrubar a ditadura e levar uma solução para a humanidade. Gostei daquilo. Se havia medíocres, disfarçavam bem.

Nos primeiros dias de campus, submergi no caos. Todos ainda tínhamos a mesma cara de calouros, mas aos poucos nos conhecemos melhor, nos diferenciamos e formamos grupinhos de acordo com preferências e visões de mundo comuns. Todas lindas, as garotas da classe estimulavam meus hormônios, eu ficava mais exibido que o habitual.

A presença na USP representava uma missão para mim. As valquírias, as amazonas e as passionárias me conduziram até o Centro Acadêmico Lupe Cotrim, cuja sede era movida a generosidade. Com prazer participava das discussões, que reproduziam o arranjo daquele lugar: uma zona em que se misturavam megafones, pilhas estratosféricas de panfletos, faixas e cartazes de épocas e procedências diferentes.

Achávamo-nos importantíssimos, ameaçávamos o sistema. Que outro motivo para sermos espreitados tão de perto? No encontro nacional dos estudantes de comunicação em Goiânia, em 1972, um jovem espião da ditadura desvelou sua condição a nós, só porque nos considerava “muito bacanas” e perdera a coragem de nos dedurar. Valentes cavaleiros, laço firme, braço forte, sentíamo-nos ocupando o centro da resistência democrática. E talvez o ocupássemos de fato.

Passados 50 anos, hoje considero que minha passagem pela ECA/USP, e ela por mim, entrou na massa de tantas experiências que me moldaram como ser humano e como profissional – professor, jornalista e escritor. Te agradeço, ECA querida.

(Trecho adaptado do romance “Ela me tira pra dançar”, Editora Patuá, 2018)

Aluno Turma Curso
Jorge Claudio Ribeiro 1972 Jornalismo

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