Jair Borin: uma vida múltipla e de militância
O jornalista e professor Jair Borin passou a ser perseguido mesmo antes de ingressar na faculdade. Começou ainda jovem a militar politicamente, em favor das reformas de base, no início da década de 60. Aos 21 anos, depois de formado em Mecânica de Voo no Rio de Janeiro, foi expulso em 1963 das Forças Aéreas Brasileiras, em Pernambuco, acusado de distribuir material de propaganda.
Começou a estudar Sociologia em Recife, mas foi preso no final de 64. Ele atuava junto ao Partido Operário Revolucionário Trotskista e foi acusado de subversão. Ficou preso em Recife e Fernando de Noronha por dez meses. Neste período, segundo a pesquisadora Lis de Freitas Coutinho, sofreu várias torturas. Entre elas, chegou a ser levado para um fuzilamento simulado num antigo paiol de munição de Recife.
Solto em setembro de 1965, estabeleceu-se em São Paulo. Ingressou em 1967 na primeira turma da recém-criada Escola de Comunicações Culturais da USP e passou a trabalhar no jornal O Estado de S. Paulo.
Ainda em 1967, num processo que corria em Pernambuco, Borin foi cassado por dez anos, por supostamente agir contra a segurança nacional e a ordem pública e social. Apesar de condenado em Recife, continuou estudando, trabalhando e militando em São Paulo. Segundo ele mesmo escreveu, fora “poupado” nessa época por não se engajar na luta armada.
Assim que se formou, em 1970, passou a atuar na ECA, primeiro como monitor e, em seguida, como professor de Redação. Nos anos seguintes, trabalharia com os temas Jornalismo Opinativo, Cooperativismo e Jornalismo Rural. Influenciado por sua infância e juventude nos cafezais do Oeste Paulista, o professor tornava-se especialista da questão agrária.
Também engajado no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, foi preso nos corredores da ECA em março de 1974. Documentos indicam que o então diretor, Manuel Nunes Dias, o denunciara e sabia de sua prisão iminente. Mais uma vez o jornalista sofreria intimidação e torturas, desta vez no DOI-Codi de São Paulo e, semanas depois, em Recife.
Borin foi solto em dezembro de 1975, mas não foi recontratado pela USP. Seus direitos políticos ainda estavam suspensos devido à cassação de 1967, o que o impedia de assumir cargos públicos. Voltou para o Estadão e, dois anos depois, foi para a Folha de S. Paulo.
O jornalista só retornaria à ECA com a Lei da Anistia, em 1980, continuando então sua trajetória acadêmica. Tornou-se doutor em Ciências da Comunicação em 1987, livre-docente em 1993 e professor titular em 1999. Teve várias gestões como chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração. Entre seus temas de ensino e pesquisa estavam questão agrária, lobby e controle da mídia.
Grande defensor de uma universidade pública forte e democrática, Borin também se engajou na política universitária. Foi presidente da Associação dos Docentes da USP (1997-1999) e concorreu aos cargos de diretor da ECA (2000) e de reitor da USP (2001). Nos dois casos venceu as eleições paritárias, mas acabou derrotado na Congregação e no colégio eleitoral, que definiam o primeiro colocado.
A vida acadêmica não impediu Jair Borin de continuar atuando no Sindicato dos Jornalistas, do qual foi diretor, e nos movimentos sociais, sobretudo naqueles ligados à questão da terra. Em 1985, participou na elaboração do Plano Nacional de Reforma Agrária no governo José Sarney. Em 2002, integrou o grupo que formularia o programa de educação, ciência e tecnologia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2003, por ocasião de sua morte, aos 61 anos, o colega e professor Wilson da Costa Bueno escreveu: “Ele teve a capacidade de desempenhar simultaneamente diversos papeis e tornar-se referência em todos (…). Particularmente, foi cidadão, em seu sentido mais amplo, um compromisso que carregava com entusiasmo e que contagiava os que dele se acercavam.”
Fontes:
Ficha de Jair Borin na Comissão da Verdade
Fotos:
Revista Adusp/Arquivo de Família
Revista Adusp/Daniel Garcia
[…] na Câmara Federal; seguiu-se o professor Thomaz Farkas; depois, José Marques de Melo; finalmente, Jair Borin, que foi preso nas dependências da ECA, numa gritante violação da inviolabilidade do território […]