Estamos num futuro distante daquele passado do século 20. Memória-momento em nuvem de lembranças ensolaradas de Ribeirão Preto. Fim do Colegial acenando a chegada da hora de escolher outros destinos. Inquietação, pulsão-juventude, cheiro da comida de casa e pais pulsão-maturidade.
USP. Na minha cabeça não existiam outras opções, digamos assim, afinal, entrei na USP com 6 anos de idade, na experimental Escola de Aplicação da Feusp. O campus, que crescia, era a extensão do nosso espaço de vida. Escola então sem cercas, Cepeusp brotando do mato, pés na emborrachada e high-tech pista de atletismo, aventuras e explorações adentrando nos modernos edifícios, zanzando livremente pela enorme Cidade Universitária nos tapetes mágicos chamados de Ônibus Circular 1 e 2.
Longe do Campus Cidade Universitária, de São Paulo, já solidificado, e perto do Campus de Ribeirão Preto, com cara de fazenda, para onde meu pai havia sido transferido dois anos antes, era o espaço geográfico da minha existência. Entre certezas e incertezas, eu gostava de todas as matérias, inclusive matemática, e outras que nós, de Humanas, costumamos odiar. Mas não. Literatura era uma viagem, mas mais do que isso, eu gostava era de frequentar os cinemas e de ir para São Paulo, aproveitar as atividades culturais. E não é que na cidade interiorana, em que nem shopping existia (ícone da cidade grande), havia até um cineclube com filmes alternativos?
A risada sobressalta no peito com a lembrança de comprar o Manual da Fuvest, uma revistona a ter que ler página por página, letra por letra, número por número e candidatos/vaga.
Vida-desafios: sair de casa, sonho-vivência universitária, diversidade pensante, jovens da mesma idade, mais velhos, caminhadas entre prédios, faculdades, piscina (e Cepeusp), bibliotecas de conhecimentos, aulas provocadoras e o poder de decisão sobre as matérias a cursar.
Vestibular-Portal-de-Passagem. Amigos-euforia, amigos-despedidas. Rituais-pais acompanhando as ideias que poderiam surgir nas cabeças adolescentes-adultos. Rituais-escola, em que Medicina era o must da moçada e o meu teste vocacional: Biológicas? Como poderíamos dizer quando estamos contrariados? Foda-se!
O pior ainda estava por vir. Ahhh! a serendipidade dos jovens que navegaram pelas páginas do Manual. E eis que “Cinema” se destaca no meio daquelas páginas. Cinema? Existe faculdade para cursar cinema?
1983 foi o primeiro vestibular que demarcou, já nas inscrições, a segmentação das habilitações de Comunicação Social, que eu, ignorantemente, achava que era Jornalismo.
Em neon Cinema transformou-se na minha mais ma-ra-vi-lho-sa ideia de universidade. Pais: “Só porque você gosta de assistir filmes?”. Absolutamente, ideia-verdade e virei cineasta, o que quer que isso significasse, antes de ingressar. Sem câmera na mão e mil ideias na cabeça, o X da tinta que cheirava azul marcou a primeira opção na ficha de inscrição, com a promessa de que eu também faria o vestibular para Geologia-herança.
Para encerrar, feliz estava eu aprovada, matriculada em Cinema na ECA-USP, de férias e dormindo tranquilamente quando me acordam, em tom de alegria, para anunciarem que eu também tinha sido aprovada em Geologia na Unesp. What? Fui até Rio Claro, fiz a matrícula em Geologia e peguei o trem para São Paulo. Aliás, essa viagem de trem foi uma outra longa história que ratificou minha passagem pelo Portal, pois eu sobrevivi.
Aluna | Turma | Curso |
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Glaucia Davino | 1983 | Cinema |
[…] Glaucia Davino (Cinema, 1983) […]
[…] Glaucia Davino, mestra e doutora pela ECA, professora e pesquisadora na área do Audiovisual (Cinema, 1983) […]