José Marques de Melo e a “subversiva” apostila Técnica do Lide
José Marques de Melo iniciou sua carreira de jornalista no começo dos anos 1960, quando atuou no movimento estudantil do Recife, participou das lutas políticas da época e integrou a equipe do governo cassado de Miguel Arraes, em Pernambuco, tendo sido preso e processado pela ditadura militar de 1964. Mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar na USP em 1966, como voluntário. Em 1967 passou no concurso para integrar o corpo docente fundador da Escola de Comunicações Culturais e logo assumiu a primeira cátedra de Jornalismo.
Em 1970, após a realização da II Semana de Jornalismo, com o tema “Censura e Liberdade de Imprensa”, o professor recebeu a visita de policiais em busca das fitas gravadas do evento. Foi informado de que sua vida estava sendo vasculhada. Em 1972, após a realização da IV Semana de Jornalismo, foi enquadrado no Decreto-Lei 477/1969, que definia “infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino público ou particulares”.
A causa da advertência foi a apostila “Técnica do Lide”, compilada por seus alunos. Consistia em uma seleção de trechos de jornais da época, mostrando os vários tipos possíveis de lide em uma notícia. A apostila havia sido editada em 1968 e reeditada em 1972, circulado em várias universidades brasileiras e ganhado destaque internacional. Os militares consideraram o material tendencioso. Marques de Melo foi acusado de praticar magistério “subversivo”, estimulando os alunos a denegrir a imagem do Brasil no exterior e incitando-os contra o regime militar. Embora tenha sido absolvido pelo ministro da Educação, Jarbas Passarinho, tornou-se persona no grata na universidade, foi discriminado e afastado do cargo de diretor do Departamento de Jornalismo da ECA.
Vigiado ostensivamente pelos agentes de segurança, depois de defender sua tese de doutorado e se tornar o primeiro doutor em Jornalismo do país em 1973, decidiu fazer pós-doutorado nos Estados Unidos, na Universidade de Wisconsin. Ao retornar, em 1974, foi surpreendido com sua demissão sumária da USP, considerada cassação branca. Ficou impedido de lecionar e pesquisar na instituição e de atuar em universidades públicas de 1974 a 1979.
O regresso ao corpo docente da ECA ocorreu em 1979, com a abertura política e a anistia. Logo reassumiu a chefia do Departamento de Jornalismo, posição que ocupou por muitos anos. Tornou-se livre-docente em 1984 e professor titular em 1987. Foi diretor da ECA de 1989 a 1992. Depois de 34 anos no serviço público, aposentou-se em 1993. Recebeu o título de professor emérito em 2003.
O processo de anistia de José Marques de Melo culminou com sentença favorável em julho de 2015, depois de tramitar durante um quarto de século. O professor faleceu em junho de 2018, aos 75 anos.
Fontes:
Jornal da USP: Perseguição política a professores marcou anos iniciais da ECA/USP
Jornal da USP: Morre José Marques de Melo, um dos maiores pensadores da comunicação no Brasil
Projeto Memórias da ECA/USP: 50 anos | Videoentrevistas de José Marques de Melo
Ficha de José Marques de Melo na Comissão da Verdade
Fotos:
Jornal da USP/Acervo CALC; Eduardo Knapp; Jornal da USP/Lincon Zarbietti
[…] sabia que José Marques de Melo, professor emérito da ECA, foi homenageado (in memoriam) na edição deste ano do Prêmio […]
[…] pela PUC-SP, doutor em Comunicação pela Universidade Metodista, com orientação do professor José Marques de Melo, e sensei em Toyota Production System (TPS) pela Shingijutsu Consulting, do Japão e dos EUA. É […]
[…] Bienal do Livro em 1970, sua relação com os professores da ECA, seu primeiro encontro com José Marques de Melo (então jovem professor e chefe do Departamento de Jornalismo), sua participação na criação da […]