Não foi uma decisão difícil. Além de gostar muito de escrever, meus pais sempre foram grandes leitores de jornais. Cresci me deparando diariamente com um exemplar da Folha e outro do Estadão abertos na mesa do café da manhã. O Brasil vivia uma ditadura e isto sempre foi um tema em casa. Eu tinha dez anos quando minha mãe me levou para a missa na Catedral da Sé em memória de Vladimir Herzog, assassinado pela repressão em outubro de 75. Só anos depois fui entender o significado daquela multidão silenciosa reunida do lado de fora e o valor de conceitos como liberdade de manifestação, de expressão e de imprensa. Estes temas marcaram minha formação.
O teste vocacional que fiz no colegial foi ao mesmo tempo óbvio e taxativo: Jornalismo ou Direito. Direito seria a opção mais cômoda, pois venho de uma família de juízes e advogados. Mas sabia que, com o jornalismo, não decepcionaria ninguém. Meu avô Edgard, jurista, havia sido colunista da Folha até ser cassado em 1964 e meu pai, antes de virar juiz, repórter do jornal no final dos anos 50. E eu também tinha o meu querido tio Júnior, mais conhecido como Reali Jr.. Em Paris, “direto das margens do Sena”, ele trabalhava como correspondente para a Jovem Pan e o Estadão. Foram muitos os papos com ele sobre jornalismo.
Ao prestar vestibular, não sabia quase nada da ECA. Só sabia que queria estudar jornalismo _e de preferência na USP, como o resto da família. Depois de aprovada, logo fui ao campus conhecer a minha futura faculdade. Era fim de tarde e não havia ninguém lá. Confesso que estranhei um pouco aquele prédio enorme de concreto com elementos vazados na fachada, o gramado mal cuidado na frente, os caminhos sombrios que ligavam um bloco ao outro e estes à lanchonete na parte de trás. Nem imaginava que daquele lugar pudessem sair tantos projetos legais, tanta discussão e conversa boa. Sem falar das amizades, que se tornariam tão importantes na minha vida. Mas isso já é tema pra outra conversa.
Aluna | Turma | Curso |
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Silvia Bittencourt | 1983 | Jornalismo |
[…] Silvia Bittencourt, da turma de Jornalismo da ECA de 1983, acaba de traduzir do alemão para o português “O livro do xadrez”, de Stefan Zweig (Fósforo). Trata-se de uma nova tradução de uma joia literária de Stefan Zweig que combina o jogo de xadrez às experiências da guerra e do confinamento. Última obra de Zweig, “O livro do xadrez” foi escrito durante seu exílio no Brasil e enviado ao editor americano poucos dias antes do suicídio do autor em 1942. É o único texto em que o escritor austríaco de origem judaica aborda diretamente o nazismo. A história já rendeu duas adaptações para o cinema (Schachnovelle, 1960 e 2021) e inspirou peças de teatro e até uma ópera. […]